quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Fragilidades na Gestão de Saúde



No Brasil, ainda prevalece a cultura de que qualquer profissional sabe gerir e que a administração se aprende na prática. Neste cenário precário, os gestores de serviços de saúde enfrentam grandes desafios, principalmente porque, na maioria das situações, a lógica política predomina em relação à lógica técnica, a qual deveria operar a condução de mudanças tanto assistenciais como gerenciais nos sistemas de saúde, sobretudo no público.

Dentre as principais fragilidades encontradas no exercício da gestão estão: o despreparo dos profissionais de saúde para o exercício da administração; a lentidão na incorporação de novas tecnologias de informação, de processos de gestão e de organização do trabalho; as barreiras de legislação que restringem a agilidade necessária, especialmente no sistema público; e a alta rotatividade dos gestores das esferas federativas em função da relação com os processos partidários e eleitorais, gerando descontinuidade, permanentes recomeços, mudanças de rumo e desmotivação dos profissionais, tanto no âmbito público quanto do privado.

Quando a tomada de decisões na gestão é feita a partir do que acontece em ato, isto traz à tona o uso da criatividade dos gestores frente às situações inusitadas e imprevisíveis; inerentes à gestão de serviços que envolvem a alta complexidade do cuidado e a urgência necessária para zelar adequadamente pela vida humana em sofrimento. O “improviso” não somente é algo comum, mas também necessário na gestão de saúde. Contudo, o uso constante do improviso por parte dos gestores em sua ação cotidiana pode comprometer o processo decisório na sua forma planejada, proativa e embasada.

Este contexto faz emergir nos gestores a incerteza acerca de seu trabalho, os quais relatam diversos sentimentos: frustração, culpa, incapacidade, incompetência e desmotivação. A potência política dos gestores tem sido minimizada de tal modo que, ao invés de realizarem mudanças inovadoras no seu processo de trabalho, eles prefiram deixar a função.

Assinala-se ainda que construir competências para a gestão ainda é muito mais um projeto individual do gestor de buscar capacitação ou não do que uma política de desenvolvimento institucional. Aqueles que mais precisariam desenvolver competências gerenciais são os que menos percebem ou valorizam essa necessidade.

Portanto, torna-se fundamental um processo educacional permanente, complexo, com a transformação de forma e de conteúdo institucional, através da reorganização dos fluxos, dos procedimentos e do uso de ferramentas de comunicação e de informação. Ou seja, é primordial a implementação de políticas eficazes de Gestão do Conhecimento e de Educação Permanente com a finalidade de reduzir continuamente o tempo entre a identificação de problemas e a geração novos saberes com a sua transformação em novas competências nas práticas dos gestores para o desempenho de suas funções com qualidade.

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REFERÊNCIAS
Littike D, Sodré F. A arte do improviso: o processo de trabalho dos gestores de um Hospital Universitário Federal. Cien Saude Colet. 2015;20(10):3051–62.
Lorenzetti J, Lanzoni GMDM, Assuiti LFC, Pires DEP De, Ramos FRS. Health management in Brazil: dialogue with public and private managers. Texto Context - Enferm. 2014;23(2):417–25.
Vanderlei M, Almeida M. A concepção e prática dos gestores e gerentes da estratégia de saúde da família. Cien Saude Colet. 2007;12(2):443–53.
André AM, Ciampone MHT. Competências para a gestão de Unidades Básicas de Saúde: percepção do gestor. Rev da Esc Enferm da USP. 2007;41(spe):835–40.
Assumpção RPS, Dimitrov P. Gestão do Conhecimento: uma estratégia para o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde. Observatório de Saúde da Região Metropolitana de São Paulo. 2009 [cited 2015 Nov 8].

2 comentários:

  1. Além das questões abordadas, a compartimentalização de programas faz com que os profissionais se limitem as ações sob sua responsabilidade, perdendo a perspectiva da abrangência da atenção em saúde. Provoca ainda uma espécie de concorrência entre as equipes quando deveria prevalecer a cooperação.

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    1. Obrigado pelo comentário Glaucia! Realmente a compartimentalização dos programas é um entrave e atribuo isso mais ao despreparo dos gestores dos programas e do gestor superior do que a uma falha da instituição.

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