No Brasil, ainda prevalece a
cultura de que qualquer profissional sabe gerir e que a administração se
aprende na prática. Neste cenário precário, os gestores de serviços de saúde
enfrentam grandes desafios, principalmente porque, na maioria das situações, a
lógica política predomina em relação à lógica técnica, a qual deveria operar a
condução de mudanças tanto assistenciais como gerenciais nos sistemas de saúde,
sobretudo no público.
Dentre as principais fragilidades
encontradas no exercício da gestão estão: o despreparo dos profissionais de
saúde para o exercício da administração; a lentidão na incorporação de novas
tecnologias de informação, de processos de gestão e de organização do trabalho;
as barreiras de legislação que restringem a agilidade necessária, especialmente
no sistema público; e a alta rotatividade dos gestores das esferas federativas
em função da relação com os processos partidários e eleitorais, gerando
descontinuidade, permanentes recomeços, mudanças de rumo e desmotivação dos
profissionais, tanto no âmbito público quanto do privado.
Quando a tomada de decisões na
gestão é feita a partir do que acontece em ato, isto traz à tona o uso da
criatividade dos gestores frente às situações inusitadas e imprevisíveis;
inerentes à gestão de serviços que envolvem a alta complexidade do cuidado e a
urgência necessária para zelar adequadamente pela vida humana em sofrimento. O
“improviso” não somente é algo comum, mas também necessário na gestão de saúde. Contudo, o uso
constante do improviso por parte dos gestores em sua ação cotidiana pode
comprometer o processo decisório na sua forma planejada, proativa e embasada.
Este contexto faz emergir nos
gestores a incerteza acerca de seu trabalho, os quais relatam diversos
sentimentos: frustração, culpa, incapacidade, incompetência e desmotivação. A
potência política dos gestores tem sido minimizada de tal modo que, ao invés de
realizarem mudanças inovadoras no seu processo de trabalho, eles prefiram deixar a
função.
Assinala-se ainda que construir
competências para a gestão ainda é muito mais um projeto individual do gestor
de buscar capacitação ou não do que uma política de desenvolvimento
institucional. Aqueles que mais precisariam desenvolver competências gerenciais
são os que menos percebem ou valorizam essa necessidade.
Portanto, torna-se fundamental um
processo educacional permanente, complexo, com a transformação de forma e de
conteúdo institucional, através da reorganização dos fluxos, dos procedimentos
e do uso de ferramentas de comunicação e de informação. Ou seja, é primordial a
implementação de políticas eficazes de Gestão do Conhecimento e de Educação
Permanente com a finalidade de reduzir continuamente o tempo entre a
identificação de problemas e a geração novos saberes com a sua transformação em
novas competências nas práticas dos gestores para o desempenho de suas funções
com qualidade.
O que você pensa a respeito? Deixe abaixo o seu comentário...
REFERÊNCIAS
Littike D, Sodré F. A arte do
improviso: o processo de trabalho dos gestores de um Hospital Universitário
Federal. Cien Saude Colet. 2015;20(10):3051–62.
Lorenzetti J, Lanzoni GMDM,
Assuiti LFC, Pires DEP De, Ramos FRS. Health management in Brazil: dialogue
with public and private managers. Texto Context - Enferm. 2014;23(2):417–25.
Vanderlei M, Almeida M. A
concepção e prática dos gestores e gerentes da estratégia de saúde da família.
Cien Saude Colet. 2007;12(2):443–53.
André AM, Ciampone MHT.
Competências para a gestão de Unidades Básicas de Saúde: percepção do gestor.
Rev da Esc Enferm da USP. 2007;41(spe):835–40.
Assumpção RPS, Dimitrov P. Gestão
do Conhecimento: uma estratégia para o desenvolvimento do Sistema Único de
Saúde. Observatório de Saúde da Região Metropolitana de São Paulo. 2009 [cited
2015 Nov 8].
Além das questões abordadas, a compartimentalização de programas faz com que os profissionais se limitem as ações sob sua responsabilidade, perdendo a perspectiva da abrangência da atenção em saúde. Provoca ainda uma espécie de concorrência entre as equipes quando deveria prevalecer a cooperação.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário Glaucia! Realmente a compartimentalização dos programas é um entrave e atribuo isso mais ao despreparo dos gestores dos programas e do gestor superior do que a uma falha da instituição.
Excluir