Cerca de 36.000 ensaios controlados randomizados são publicados anualmente, em média, e normalmente leva em torno de 17 anos para que os achados atinjam a prática clínica. As mudanças propostas na prática de cuidados na linha de frente dos serviços de saúde geralmente se originam com sugestões dos próprios profissionais da equipe assistencial, mas avaliar o mérito dessas proposições pode ser demorado e caro.
As avaliações de evidências focalizadas, sem uma ampla revisão sistemática da literatura científica, podem produzir resultados inconclusivos que não geram opções claras e não propiciam decisões assertivas. A realização de estudos-piloto são vulneráveis a uma metodologia fraca, a uma avaliação menos rigorosa, a pouca evidência e a outras limitações.
Com isso, a implementação de mudanças nos protocolos assistenciais se torna árdua e há o surgimento de um bloqueio ao uso de práticas baseadas em evidências. Por diversas vezes, a realização de ciclos PDSA (leia mais sobre Ciclos PDSA) baseados em evidências frágeis rendem poucas inovações práticas que não melhoram a qualidade dos cuidados e provavelmente não serão sustentáveis e econômicas.
O ideal é que a instituição tenha uma equipe, devidamente capacitada, para verificar a literatura em busca de práticas promissoras que não estão sendo utilizadas ainda na linha de frente do serviço de saúde. As descobertas desta equipe devem ser consolidadas e encaminhadas para apreciação pelos chefes de departamento. Após a discussão entre os chefes de departamento e os membros da equipe assistencial, o escritório de gerenciamento de projetos (leia mais sobre Escritórios de Gerenciamento de Projetos) deve ser acionado para implementar e disseminar as novas práticas.
A equipe responsável pela busca e análise das evidências deve realizar pesquisas regularmente com processos e metologia bem definidos e transparentes. Após a triagem dos milhares de resumos de artigos científicos, a equipe precisa filtrá-los, atendendo a critérios predeterminados segundo o potencial da nova prática para melhorar a qualidade, os resultados, a acessibilidade, a eficiência ou a utilização dos cuidados de saúde. A ferramenta Cochrane de "risco de viés"e a estrutura GRADE são fundamentais neste processo, a fim de garantir a qualidade das evidências a serem selecionadas.
As novas práticas têm de ser todas baseadas em estudos de alta qualidade que possam ser generalizáveis para as configurações da instituição. O desfecho esperado é que elas produzam maior segurança do usuário, melhor qualidade no atendimento, aumento da eficiência dos processos e melhoria nos resultados financeiros.
As novas práticas têm de ser todas baseadas em estudos de alta qualidade que possam ser generalizáveis para as configurações da instituição. O desfecho esperado é que elas produzam maior segurança do usuário, melhor qualidade no atendimento, aumento da eficiência dos processos e melhoria nos resultados financeiros.
A discussão entre todas as partes interessadas, utilizando seus conhecimentos, sobre o benefício esperado de se implementar as novas práticas selecionadas em processos clínicos ou operacionais é essencial. Neste momento são analisadas a viabilidade e a sustentabilidade da opção selecionada. Quando as partes interessadas entram em acordo em relação a proposta e dão sinal verde, significa que o processo de efetivação pode ser iniciado. A partir deste momento, parte-se para a alteração ou adaptação dos processos de trabalho e dos protocolos clínicos.
A implementação total de uma iniciativa em todos os cenários da instituição leva no mínimo vários meses e depende dos processos de trabalho já existentes. Métricas precisam ser definidas para monitorar continuamente a aplicação e a adesão à nova prática. O monitoramento precoce concentra-se em métricas de processo. À medida que a implementação avança pelos diversos cenários e com as iniciativas já maduras, as métricas de resultados devem ser incluídas.
A implementação total de uma iniciativa em todos os cenários da instituição leva no mínimo vários meses e depende dos processos de trabalho já existentes. Métricas precisam ser definidas para monitorar continuamente a aplicação e a adesão à nova prática. O monitoramento precoce concentra-se em métricas de processo. À medida que a implementação avança pelos diversos cenários e com as iniciativas já maduras, as métricas de resultados devem ser incluídas.
Um dos desafios a ser enfrentado é o tempo escasso das partes interessadas para discutir a proposta e supervisionar a implementação da prática. Este fator pode limitar a quantidade de novas práticas que podem ser implantadas e precisa ser superado por meio de uma cultura organizacional robusta para o uso de evidências.
Portanto, por meio de uma abordagem sistemática que requer poucas pessoas e poucos recursos pode-se colocar a evidência publicada em prática dentro de alguns meses, reduzindo o abismo entre o conhecimento disponível e a prática assistencial. Os detalhes, particularmente sobre como identificar e envolver as partes interessadas, podem variar entre as instituições, mas o processo básico e a transformação da cultura organizacional são amplamente aplicáveis. Diante da grande quantidade de evidência nova e de alta qualidade publicada, que a cada ano continua a aumentar, não é mais aceitável uma longa espera para colocar o melhor conhecimento disponível em prática.
Bem verdade.
ResponderExcluirÉ pena continuar assistir ao desrespeito pela evidência, muitas vezes por pura resistência à mudança...
Excelente artigo. Obrigado
Exatamente Fernando! É preciso quebrar essa resistência à mudança! Obrigado pelo comentário!
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