quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Gestão das Redes de Atenção à Saúde



A proposta de Redes de Atenção à Saúde (RAS) é quase secular, tendo em vista que sua origem está no Relatório Dawson, produzido em 1920, no Reino Unido, um dos documentos da fundação do serviço nacional de saúde inglês. A partir dos anos 90, as RAS foram revisitadas em função da crise da saúde nos países desenvolvidos e surgiram, então, várias propostas de superação dos sistemas de saúde fragmentados. Os elementos constitutivos das RAS, segundo Eugênio Mendes, são: população, estrutura operacional e modelo de atenção.

A atenção à saúde baseada na população é a capacidade de um sistema em estabelecer as necessidades de saúde de uma população específica sob sua responsabilidade, de acordo com riscos, bem como de implementar e avaliar as intervenções sanitárias relativas a essa população e de prover o cuidado para as pessoas no contexto de sua cultura e de suas preferências. Para isso são utilizadas as seguintes estratégias: territorialização, cadastramento dos usuários com adscrição da clientela, classificação das famílias por riscos sócio-sanitários, vinculação dos usuários às unidades de atenção primária, identificação de condições de saúde e identificação de casos complexos.

A estrutura operacional das RAS é constituída pelos nós das redes e pelas ligações materiais e imateriais que comunicam esses diferentes nós, ou seja, pelos serviços de saúde já existentes no território e os fluxos que os interligam.

Os modelos de atenção são sistemas lógicos que organizam o funcionamento das RAS. Articulando, de forma singular, as relações entre a população e suas subpopulações, estratificadas por riscos. Os focos das intervenções do sistema de atenção à saúde e os diferentes tipos de intervenções sanitárias são definidos em função da visão prevalecente da saúde, dos determinantes sociais da saúde e das situações demográfica e epidemiológica, vigentes em determinado tempo e em determinada sociedade.

Os modelos de atenção às condições crônicas são modelos mais complexos que operam sobre todo o ciclo de uma condição crônica, de forma integral, envolvendo ações de promoção da saúde e de prevenção, cuidado, reabilitação e paliação das condições de saúde. Almejam uma atenção contínua que engloba cuidados primários, secundários e terciários, sistemas de apoio e sistemas logísticos. Estes modelos são baseados no planejamento estratégico das mudanças, no trabalho multiprofissional no cuidado, nas novas formas de encontros entre profissionais de saúde e usuários, no acompanhamento rotineiro dos usuários na comunidade, na clínica centrada na pessoa, nos planos de cuidados, no apoio ao autocuidado, na integralidade do cuidado, na intersetorialidade, nos sistemas de informação como forma de articulação das redes, na educação permanente e na educação em saúde.

Os modelos de atenção às condições agudas são construídos para atender na lógica do agudo que tem sua variável-chave no tempo resposta do sistema de saúde. Na experiência internacional esses modelos operam a partir de algum tipo de triagem que determina, com base em sinais de alerta e segundo os riscos, o tempo-alvo para se prestar o atendimento no ponto de atenção à saúde com as condições tecnológicas para, de forma oportuna, efetiva, eficiente e de qualidade, responder à necessidade das pessoas em situações de urgência ou emergência, como por exemplo a classificação de risco de Manchester.

Para a organização das RAS são fundamentais as ferramentas de gestão da clínica. A Gestão da Clínica é compreendida como tecnologia aplicável aos serviços de saúde, destinada a não só assegurar e otimizar os padrões clínicos, como a incrementar a eficiência da prestação de serviços, reduzir riscos para usuários e profissionais, melhorando, assim, a qualidade da atenção à saúde. Compõem as ferramentas de Gestão da Clínica as linhas de cuidado e as diretrizes clínicas, delas derivam um conjunto de estratégias associadas, tais como a gestão da condição de saúde, a gestão de casos, a auditoria clínica e a gestão das listas de espera.

Por fim, as RAS por suas múltiplas conexões pressupõem a heterogeneidade, que exige a capacidade de convivência, pactuação, manejo de conflitos e alta capacidade de autoanálise, pois é mais difícil e complexo lidar de forma produtiva com o diferente do que com o igual. A diversidade multiplica as possibilidades de fluxos e conexões, o que permite a linha de cuidado se realizar. As conexões vão produzindo mapas através dos fluxos nos quais transita a ação dos sujeitos singulares que aí atuam. O itinerário terapêutico que se produz é como um sistema aberto, não modelar e não serial, com muitas entradas e saídas, operando de forma não estruturada sobre a realidade. Caberá aos gestores, através das ferramentas de gestão da clínica, organizar e otimizar os itinerários terapêuticos existentes!

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