A recente crise econômica, que
atinge diversos países, propicia um cenário favorável para a aplicação da
austeridade severa nos gastos públicos. Neste contexto, os sistemas de saúde
públicos universais padecem, assim como diversas conquistas de direito social,
pela progressiva escassez de recursos financeiros.
Dentre os desafios oriundos deste
cenário, surge a hesitação em relação ao princípio da Universalidade. Esta é uma
cláusula pétrea dos sistemas universais, em momento algum deve se cogitar o
questionamento desta conquista. Pelo contrário, é preciso lutar e instigar ao
máximo para o adequado e estável financiamento público das ações de saúde,
visando garantir o direto à saúde e uma atenção de qualidade e gratuita.
Sobre o adequado financiamento, é
necessário que ele seja suficiente não apenas para propiciar o enfrentamento oportuno
das transições demográfica e epidemiológica, com o advento das epidemias de
doenças crônicas, mas também para suportar efetivamente possíveis eventos
inesperados, como por exemplo as epidemias de Ebola, Zica e Febre Amarela.
Outro ponto fundamental para a sustentabilidade
dos sistemas de saúde é a consolidação e integração das Redes de Atenção à Saúde.
Para isso, é imprescindível a migração do modelo de atenção à saúde, deixando
de lado o enfoque hospitalar para o fortalecimento progressivo e perene da
atenção primária como coordenadora do cuidado.
As parcerias intersetoriais devem
ser efusivamente estimuladas, principalmente com a área da assistência social,
afim de somar esforços e evitar sobreposições na busca de um melhor atendimento
integral possível.
A atenção à saúde deve ser cada
vez mais valorizada e dignificada, sobretudo no atual contexto de avanços e
inovações, tecnológicas e científicas. A ênfase nas práticas de saúde baseadas
em evidências surge como alternativa para aprimorar o exercício laboral dos
profissionais de saúde, na perspectiva de melhor atender à população.
Por fim, mas não menos
importante, um fator essencial é o combate aos grandes vilões dos sistemas de
saúde: os desperdícios, as fraudes e a má gestão. Apenas com gestores habilitados
e qualificados será possível identificar e corrigir os desperdícios, investigar
e punir exemplarmente as fraudes, e exercer com excelência a gestão dos
serviços de saúde.
Portanto, para que os sistemas de
saúde universais consigam atravessar este período tenebroso de crise é
indispensável: manter inviolável o princípio da universalidade, garantir o
financiamento justo e pertinente, organizar as redes de atenção à saúde em
torno da atenção primária, articular parcerias intersetoriais, aperfeiçoar as
práticas de atenção à saúde e exercer com esmero e competência a gestão em
saúde.