Os sistemas de atenção à saúde no Brasil são, em sua maior parte, fragmentados, reativos, episódicos, focados na doença e organizados com base no fortalecimento do atendimento em unidades de urgência e nos cuidados de nível secundário. Os problemas ocorrem tanto na infraestrutura quanto na gestão, tanto no sistema público quanto no privado. Estudos conduzidos pelo Banco Mundial em 2009 reprovaram uma parcela significativa dos hospitais brasileiros, públicos e particulares, apontando que o setor gasta mal e desperdiça muito. No estudo “Desempenho hospitalar brasileiro”, a rede de hospitais avaliados obteve nota 0,34 numa escala de 0 a 1. Segundo a instituição, mais de 30% das internações seriam desnecessárias, o que geraria desperdício de R$ 10 bilhões por ano. A assistência privada, diferentemente do sistema público, não é universal nem gratuita. Não existe uma relação direta de causa e efeito entre o aumento dos custos da saúde e o aumento da qualidade dos serviços prestados e da tecnologia empregada.
O país ainda enfrenta uma rápida mudança demográfica e epidemiológica caracterizada pelo envelhecimento da população e por uma impressionante carga de doenças. Ainda não superamos as infecções decorrentes dos problemas sanitários, convivemos com a alta prevalência das lesões secundárias aos traumas (violência e acidentes) e já temos que lidar com as doenças crônicas próprias do envelhecimento populacional.
Do ponto de vista do usuário, a insatisfação é generalizada tanto com os serviços de saúde públicos quanto com os suplementares. Em pesquisa recente conduzida pelo Instituto Datafolha, 45% dos entrevistados apontaram a saúde como principal problema do país, à frente da violência, desemprego, fome, miséria e corrupção. O percentual da população insatisfeita com os cuidados triplicou em uma década, passando de 15% para 45%. Mais de 60% da população avalia a assistência como ruim ou péssima, e esse número cresce para 70% quando os entrevistados são somente os que têm acesso ao sistema privado. Notadamente, as principais causas da insatisfação são a sensação da falta de médicos e enfermeiros e a da baixa qualidade do atendimento. A maior parte da população entrevistada (66%) considera que o acesso aos serviços de saúde no Brasil é difícil ou muito difícil. Paradoxalmente, os médicos são percebidos como os profissionais mais confiáveis (26%), seguidos por professores (24%) e bombeiros (15%).
O gasto de um país com saúde em relação a seu PIB não revela necessariamente a eficiência do sistema. Os Estados Unidos são o país que mais gasta com saúde desse ponto de vista, 17,7% do PIB, mas sua população está longe de se considerar minimamente tranquila. Mais revelador é o gasto per capita. Por esse critério, o Brasil gastou US$ 1.109 em 2012, em paridade do poder de compra (PPP), de acordo com a ANAHP, ficando à frente apenas de seis países, dentre os quais o México (US$ 977), a China (US$ 432) e a Índia (US$ 141). Os Estados Unidos novamente encabeçam a relação com despesas per capita de US$ 8,9 mil. O Brasil só se aproxima dos Estados Unidos pelo elevado percentual de gastos com saúde do setor privado, em torno de 54% do total per capita nos dois casos. Cálculos da ANAHP sinalizam que o gasto privado com saúde pode ser ainda maior no Brasil, três vezes superior ao público, incluindo as despesas por parte da população que não possui plano de saúde, o que é uma contradição diante da proposta de universalização da saúde.
Para alguns especialistas, a população não deveria pagar mais do que 50% das despesas com saúde, e isso ocorreria para evitar as filas ou para procedimentos mais sofisticados como próteses. Ainda assim o percentual surpreende porque no Brasil a mão de obra médica é mais barata do que nos países mais avançados, enquanto o custo de equipamentos e materiais acompanha o patamar internacional.
Neste contexto, portanto, as operadoras de planos de saúde tem um grande desafio a ser enfrentado antes da simples tarefa de aumentar seu faturamento. Ainda há muito a evoluir em organização, gestão e qualidade dos serviços prestados, sobretudo na redução de custos. Cada vez mais são necessários gestores preparados e motivados para transformar o atual cenário nacional dos sistemas de saúde em busca da excelência na assistência prestada.
Fonte dos Dados: Harvard Business Review Brasil
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